domingo, 29 de março de 2009

FUTEBOL : CLUBES LUTAM PARA UNIFICAR OS TÍTULOS BRASILEIROS A PARTIR DE 1959

Na tarde da terça-feira dia 24/03/2009, seis clubes brasileiros iniciaram um movimento amplo com uma meta ambiciosa: unificar os títulos brasileiros a partir de 1959, juntando Robertão, Taça Brasil e Campeonato Brasileiro. Mas esta não será uma missão fácil, principalmente porque a história destas conquistas é confusa e até desorganizada em alguns pontos.

O jornalista Odir Cunha foi quem aceitou este complicado desafio ao elaborar o livro “Dossiê - Unificação dos títulos brasileiros a partir de 1959”. Com 200 páginas, a obra tenta esclarecer todas as dúvidas e confusões.

A idéia do projeto surgiu há dois anos, foi tocada por José Carlos Peres, superintendente de futebol do Santos, e se intensificou nos últimos 8 meses. Agora, ele será apresentado para a CBF, que vai avaliar a ideia.

Na tarde da terça-feira, junto com cinco representantes dos clubes (Zezé Perrela, do Cruzeiro, faltou), Odir fez uma apresentação com todos os argumentos elaborados para justificar a unificação dos títulos. Veja alguns deles abaixo:

Taça Brasil x Copa do Brasil
Há quem diga que a Taça Brasil não poderia ser considerada um campeonato brasileiro simplesmente porque ela era disputada no modelo de mata-mata, idêntica ao formato adotado atualmente pela Copa do Brasil.

Os seis clubes brasileiros rejeitam esta idéia e consideram este fato uma “comparação sem sentido”.

O livro explica que são competições totalmente diferentes desde o seu objetivo inicial: a Taça Brasil foi criada para ser a única competição nacional naquela época. Já a Copa do Brasil não passa de uma alternativa para dar chances aos pequenos clubes que não participam do Campeonato Brasileiro.

Já o sistema de disputa só é igual porque na década 60 sequer existiam pontes aéreas no país, o que dificultava um campeonato por pontos conrridos, por exemplo. Luiz Gonzaga Belluzzo, presidente do Palmeiras, é breve e objetivo sobre o assunto: "Não é porque você mudou o formato que você pode anular o que já aconteceu".

Além disso, outras diferenças são apontadas: na Taça, apenas clubes campeões estaduais participavam. Na Copa, alguns times são simplesmente convidados a jogá-la. Na Taça, 100% das vagas brasileiras na Copa Libertadores da América eram definidas. Na Copa, apenas 20%.

CBD x CBF
Apenas competições organizadas pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) podem ser consideradas como campeonatos brasileiros? Odir Cunha discorda e explica que a CBF só foi fundada em 1979. Se fosse assim, títulos de 1971 a 1978 também não poderiam ser considerados campeonatos brasileiros, assim como a Taça Brasil e o Torneio Roberto Gomes Pedrosa.

Antes de 79, quem organizava tudo era a Confederação Brasileira de Desportes (CBD). Foi ela quem conquistou três Copas do Mundo que hoje são incorporadas ao salão de troféus da CBF. O dossiê quer que a entidade faça o mesmo agora: assuma que aconteceram competições nacionais importantes antes de sua fundação.

"Santos é pentacampeão do Brasil com gol de Pelé"

(pôster de A Gazeta Esportiva em 1965)


Duas competições no mesmo ano

A Taça Brasil e o Torneio Roberto Gomes Pedrosa aconteceram no mesmo ano em duas oportunidades: em 1967 e em 1968. Em 67, o Palmeiras faturou os dois títulos. Em 1968, o Santos ganhou um (“Robertão") e o Botafogo o outro.

E agora? Existiu um campeonato mais importante? Como resolver esta questão? A sugestão dada pelos clubes é que sejam reconhecidos dois campeões brasileiros no mesmo ano. Sendo assim, o Palmeiras ficaria, sim, com dois títulos em 67. O que já aconteceu em outras oportunidades no futebol, como o Mundial de 2000 e anualmente na Argentina, com os Torneios Clausura e Apertura.

Odir entende que “este detalhe não prejudica a história”. Para ele, acreditar que isto pode atrapalhar a unificação dos títulos é um erro: “É pensar muito pequeno. Está na hora de somar”, denfedeu.

Imprensa
Os jornais da época eram taxativos: Bahia, Palmeiras, Santos, Cruzeiro, Botafogo e Fluminense foram campeões brasileiros. O dossiê levantou inúmeras manchetes da época que provavam tal fato. Páginas antigas de vários veículos foram mostradas na apresentação do “Dossiê”: A Gazeta Esportiva, Folha de S. Paulo, Jornal da Tarde, Placar, entre outros. "Os títulos afirmavam quem ganhava como o melhor time do Brasil".

Na principal delas, há uma entrevista de João Havelange (ex-presidente da CBD) para Ney Bianchi, jornalista da revista Manchete. Nela, a criação da Taça Brasil, em 1959, é considerada uma “nova revolução”.

"O Cruzeiro é o novo campeão do Brasil, campeão épico e digno"

(Jornal dos Sports em 1966)


Nomenclatura

Poucos times que hoje são campeões brasileiros ganharam realmente uma competição chamada “Campeonato Brasileiro”. Este nome só foi adotado a partir de 1989. Antes disso, outras alcunhas foram utilizadas para definir o melhor time do país: Campeonato Nacional, Taça de Ouro e Copa União são alguns exemplos. Depois disso, em 2000, o torneio voltou a mudar de nome para Copa João Havelange. O Vasco venceu naquele ano e foi considerado normalmente "campeão brasileiro".

Sendo assim, Odir Cunha entende que este não é um motivo para que a Taça Brasil e o Torneio Roberto Gomes Pedrosa sejam ignorados. Para ele, “taça”, “copa”, “campeonato” são palavras de igual sentido, que levam à mesma coisa: competição.


Exemplo europeu

A pesquisa do dossiê não ficou presa apenas ao Brasil. Ela foi buscar exemplos em outros países para justificar sua conclusão. Segundo ele, na Espanha, na França, na Itália, entre outros países, todos campeões nacionais são reconhecidos atualmente. E esta legitimidade acontece independentemente do formato das competições.

Na França, até campeonatos disputados com gramados em tamanhos e condições irregulares são contabilizados normalmente. Na Argentina, competições que envolviam apenas times de Buenos Aires também são legítimos títulos nacionais.

"O Flu é campeão do Brasil"

(Capa da revista Placar em 1970)


Craques

Se hoje um estrangeiro pesquisar quantas vezes Pelé foi campeão brasileiro, ele descobrirá que o Rei nunca conseguiu este título. É de se lamentar não apenas pelo craque santista, mas por outros grandes nomes do futebol brasileiro. A inteção é mudar isso.

Na apresentação do livro, diversos ídolos foram lembrados: Djalma Santos, Nilton Santos, Jairzinho, Coutinho, Ademir da Guia, Tostão, Zito, entre outros. Todos eles têm a chance de, oficialmente, dizerem que são legítimos campeões brasileiros.

Com todos argumentos apresentados acima, Odir Cunha é contundente na conclusão: "Não há argumento lógico para a CBF não unificar os títulos”.




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